A situação foi descoberta por acaso. A dona do local foi até lá para cobrar alugueis e se deparou com a área abandonada. Lá, a zoóloga aposentada Ana Maria Vieira diz ter encontrado 12 cães mortos e outros 59 com a saúde debilitada e sinais de maus-tratos.
Magros e abatidos, dálmatas, golden retrievers, labradores, rottweilers, huskies, são bernardos, dog alemães, filas, akitas e outros cães de raça dividiam 22 baias construídas pelo inquilino, que fizera do local um centro de reprodução e comércio de cães.
Começou então a luta pela vida dos animais. Em duas semanas, Ana gastou R$ 10 mil em ração, remédios e tratamentos. A tarefa parecia interminável, até que uma conhecida da dona do sítio criou um grupo no Facebook. A página reuniu cerca de 2.000 membros em poucos dias, e dezenas se prontificaram a ajudar.
Entre os voluntários estavam a empresária Leandra Marquezini, 37, e o esteticista animal Yuri de Souza, 22.
Leandra resgata cães de ruas há 22 anos e diz nunca ter visto situação como aquela. "Eram cães mortos-vivos. Uma cadela estava comendo seus filhotes de tanta fome."
Durante janeiro e fevereiro, cerca de 50 voluntários se revezaram para limpar as baias, alimentar, passear e ministrar remédios aos cães. Houve doações de cerca de duas toneladas de ração e remédios.
"O trabalho era muito, mas a satisfação era maior", diz Yuri, que passou suas férias de janeiro na chácara.
Apesar da mobilização, nove dos 59 cães resgatados morreram. Os 50 sobreviventes conseguiram um novo lar. A maioria está sob cuidados de voluntários do mutirão.
Enquanto o inquérito aberto em janeiro pela Polícia Civil não é concluído, a Justiça permitiu a adoção provisória. Ninguém, porém, pode vender, doar ou permitir a reprodução até o fim das apurações e a definição sobre a posse definitiva --o antigo inquilino, que nega maus-tratos, quer os cães de volta.
EX-DONO
Em cerca de dois meses, o casal Félix e Gaya, da raça dog alemão, engordou junto mais de 60kg.
A empresária Leandra Marquezini, que participou do mutirão, tem a guarda provisória deles.
O antigo inquilino da chácara, Fabiano de Lima, disse, por meio de seu advogado, Nerci Belissi, que o canil nunca esteve superlotado e que havia cães debilitados pela leishmaniose. Belissi afirma ter provas de que os cachorros eram bem cuidados, o canil, legalizado e que tentará reaver a posse dos cães.
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