Eutanásia ou tratamento para cães com leishmaniose?
A polêmica é antiga e não há sinais de consenso. Apostar na prevenção e no controle do vetor é o caminho mais seguro.
Dados epidemiológicos do Ministério da Saúde apontam um padrão sazonal da leishmaniose. Logo após o período de chuvas, há um aumento da incidência da doença, pois os mosquitos vetores encontram condições ideais para se reproduzir em ambientes úmidos. O surgimento de novos casos costuma reacender a polêmica sobre a eutanásia canina e suscitar o debate sobre as alternativas de tratamento.
Enquanto o Ministério da Saúde indica a eutanásia para cães infectados, parte dos médicos veterinários e ONGs que atuam em defesa de animais acreditam que o melhor caminho é o tratamento. O médico veterinário infectologista Paulo Tabanez ressalta, inclusive, que o Brasil é um dos únicos países no qual a eutanásia ainda é vista como alternativa para o controle da doença, e afirma que “muitos cães são sacrificados em nome de um controle que não existe”.
Tirando o foco do embate, há um ponto em comum valorizado por todas as partes e que pode até mesmo evitar casos mais sérios e polêmicos: a prevenção. Para tratar a questão de forma adequada, é preciso primeiro ressaltar que o problema não começa nos cães, como muitos acreditam, e sim no inseto flebótomo, chamado popularmente de mosquito-palha.
Apesar disso, os cães são geralmente responsabilizados pela propagação da doença. Tabanez acredita que as políticas públicas e campanhas deveriam ser voltadas para o controle da proliferação do mosquito-palha, até porque, pessoas que têm os cães sacrificados, em pouco tempo, adquirem novos filhotes, que podem acabar sendo infectados se não houver uma erradicação do mosquito na área.
Outra forma de prevenção é a vacina. Tabanez explica que há duas vacinas eficientes disponíveis no Brasil, a leishmune, no mercado desde 2003, e a leishtec, desde 2008. Paulo orienta os donos de cachorros a realizarem os exames. No entanto, alerta que os exames disponíveis na rede pública podem dar resultados de falsos positivos ou falsos negativos. Existem testes mais específicos na rede privada. Feito o diagnóstico, os cães infectados podem ser submetidos à eutanásia ou ao tratamento, de acordo com a vontade do dono. Caso estejam livres da doença, Tabanez recomenda a vacinação.
Valéria Sokal, bancária aposentada e voluntária na ONG ProAnima, tem 44 cães e, após orientação de veterinários em 2006, adotou a vacina como forma de prevenção. Além de medidas como o manejo ambiental e o uso da coleira repelente por todos os seus cães, Valéria resolveu proteger sua propriedade com plantas como a citronela, conhecida por repelir mosquitos. A aposentada vê na prevenção uma forma de proteger sua família e seus animais. “Eles convivem conosco dentro de casa e precisam ser protegidos.”
Medidas de prevenção
- Não deixar frutas caídas no chão (o mosquito prolifera em áreas úmidas e no acúmulo de matéria orgânica)
- Evitar o acúmulo de folhas
- Manter a grama sempre bem aparada
- Evitar o uso de esterco animal (este pode estar contaminado)
- Usar fertilizantes ensacados hermeticamente com mais de 30 dias
- Evitar passeios com o cão em períodos de atividade do mosquito (períodos com menor incidência de luz e ausência de ventos)
- Usar coleiras repelentes nos cães
- Equipar canis e ambientes nos quais o cão vive com telas de proteção
- Vacinar os cães saudáveis
Fonte: Correio Braziliense
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