Leishmaniose se expandiu para as últimas quadras do Lago Sul em Brasília
Este ano, a Vigilância Sanitária já constatou a contaminação de 74 cães. Dois casos da doença em humanos são investigados.
- Do Correio Braziliense - Os perigos do avanço da leishmaniose continuam longe do fim. A Secretaria de Saúde investiga casos de infecção em duas pessoas, que podem ter sido contaminadas neste ano dentro dos limites do Distrito Federal. A Vigilância Sanitária emitiu 74 laudos positivos para cães da cidade — o animal se torna hospedeiro do protozoário causador da enfermidade. Embora considere a situação sob controle, a diretoria do órgão admite os riscos de que a doença se espalhe para outras regiões administrativas.
A única contaminação fora da zona comum de infecção, no ano passado, ocorreu no Jardim Botânico. O chefe do Núcleo de Controle de Endemias do órgão, Dalcy Albuquerque Filho, explicou que os registros predominam no lado norte do DF, em locais como Varjão, Sobradinho 2, Grande Colorado e Lago Norte, onde uma mulher morreu vítima da doença, em outubro de 2009. O primeiro óbito ocorreu na Vila Rabelo 2, há mais de quatro anos. “Os casos se concentram nessas regiões, mas podem avançar. A tendência é sempre ganhar espaço. A diferença entre uma cidade e outra não é uma parede”, alerta.
Em fevereiro último, os técnicos da Secretaria de Saúde percorreram a Fercal por conta da notificação de um caso em humano em Sobradinho 2. A veterinária Maria Isabel Bofill, da Vigilância Sanitária, explica que o micro-organismo só foi encontrado nos cachorros da pessoa sob suspeita de contaminação e de uma vizinha. Os exames nos animais que vivem no restante das casas da comunidade deram resultado negativo. Ao todo, inclusive em outros pontos do DF, os técnicos analisaram 540 amostras de material biológico de cães e descartaram 466 resultados, de janeiro ao último dia 21.
A quantidade de parques e o excesso de material orgânico depositado de maneira inadequada no solo das casas facilitam a proliferação do mosquito-palha, vetor do parasita responsável pela leishmaniose. “A doença decorre da própria urbanização da cidade. As pessoas trazem adubos e esterco de outros estados, que podem ajudar na disseminação do inseto. Nos lugares de maior ocorrência, há terrenos enormes, com árvores e folhas que servem para a proliferação do flebotomínio (mosquito-palha)”, detalhou Maria Isabel.
O protozoário se expande para lugares como o Lago Sul. O servidor público Eduardo Lopes, 59 anos, vive sob a ameaça da leishmaniose. Avalassadora, a doença matou dois cachorros que ele criava em casa, na QI 28. Há duas semanas, saiu a confirmação da contaminação de um terceiro cão do imóvel. “O problema migrou, está instalado aqui”, observa. Eduardo acredita que a quantidade de terrenos baldios da rua contribui para a proliferação do mosquito transmissor. Dos 20 lotes do Conjunto 11, sete permanecem vazios.
A primeira notícia de leishmaniose no bairro nobre saiu em 2009. Maria Isabel explica que o registro foi em um condomínio da QI 28, em um cachorro que antes morava com o dono no Lago Norte. Depois disso, a Vigilância Ambiental encontrou registros do protozoário em animais nascidos e criados na região administrativa em que Eduardo mora. “Não se trata de um surto, o Lago Sul está dentro das áreas afetadas”, afirma a veterinária da Vigilância Sanitária. Segundo ela, os últimos levantamentos da seção confirmaram a doença em quadras das QIs 19 à 29.
Os trabalhos de especialistas particulares apontam uma mudança de comportamento. A veterinária Ana Carolina Furtado, da Clínica LR, na QI 25, diagnosticou resultado positivo em 28 cachorros que recebeu nos últimos quatro meses, todos do Lago Sul. “A leishmaniose tem crescido. Os animais chegam das mais variadas formas, desde os completamente debilitados até os aparentemente sadios, no estágio assintomático da doença”, observa. De acordo com ela, 60% dos pacientes foram submetidos a eutanásia e o restante dos proprietários foi orientado a proceder da mesma forma.
Embora a maioria dos donos mantenha um sentimento afetivo pelos animais, o jeito mais seguro de eliminar a doença do DF é com o sacrifício deles. “Se continuar vivo, o cachorro vira um reservatório. A população precisa se conscientizar”, alerta a veterinária Maria do Socorro Carvalho, da Vigilância Ambiental. O primeiro caso de transmissão no DF ocorreu em 2005. Antes disso, a maioria vinha de outros estados.
Animais e sujeira
A primeira vítima de leishmaniose foi uma garota de 6 anos, moradora da área rural de Sobradinho II. Ela não resistiu à infecção provocada pelo protozoário e morreu em novembro de 2006. A menina vivia na Vila Rabelo II, com a mãe e outros cinco irmãos. À época, o assentamento tinha condições precárias de moradia, com casebres de madeira em meio ao cerrado. Cães, gatos e galinhas ficavam soltos nas ruas, com restos de lixo espalhados pelo chão.
Os animais pagam o pato pela irresponsabilidade humana. Se tornam vítimas do único a quem servem e amam. Triste!!!
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